segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Das Kapital mostra um novo Capital Inicial



Primeiro CD após o acidente do Dinho Ouro Preto é um trabalho enxuto e mostra a vitalidade e capacidade de renovação do grupo

            Muitas vezes tragédias pessoais modificam aqueles que as sofre assim como quem está a seu redor. Talvez se Dinho Ouro Preto não tivesse caído de um palco de três metros em um show em Patos de Minas em outubro de 2009, pouco antes da banda Capital Inicial começar a gravação de seu novo CD,  o 12º disco de estúdio da banda seria outro que não Das Kapital.
            Apesar das complicações e de um longo período internado, Dinho acompanhou as gravações, que começaram mesmo sem ele, de maneira inovadora através do Skype. Quando o vocalista já estava recuperado teve de iniciar as gravações com o acompanhamento de um fonoaudiólogo. Vale ressaltar que nenhuma música permaneceu com a letra inicial e isso se deve ao novo Dinho recuperado.
            O Capital Inicial mudou seu jeito de gravar. Dinho afirmou que saiu do hospital determinado a não aguentar mais as coisas que o incomodavam. A mudança se deve também ao novo produtor da banda, David Corcos. Depois de vinte anos com Marcelo Sussekind, a banda resolveu trocar de  produtor para “Das Kapital”. O motivo foi o fraco desempenho de “Eu Nunca Disse Adeus” (2007), além da intenção de criar um álbum musicalmente diferente, sem perder a essência e a consistência rock n' roll.
            Das Kapital não fica se lamuriando. É típico disco do Capital, com faixas certeiras e curtas, como manda a cartilha atual. Suas 11 canções, que estão disponíveis para audição também no site oficial do grupo, não duram mais do que 35 minutos. Mesclam rocks com algumas baladas. A sonoridade foi atualizada, mesmo que seja facilmente identificada pelo quarteto Dinho, Fê e Flávio Lemos (bateria e baixo) e Yves Passarell (guitarra) – aquele batidão do rock clássico.
            As guitarras de Yves Passarell são o grande destaque do disco, multiplicadas, crescentes, conduzindo melodias ora simples, como a boa “Marte em Capricórnio”, ou mesmo familiares, como em “A Menina Não Tem Nada”, que lembra “Natasha” e “Música Urbana” ao mesmo tempo.  Também há espaço para baladas em Das Kapital e elas também entram no esquema do disco. “Vivendo e Aprendendo”, que fecha os trabalhos, lembra algo que poderia ser do Oasis, enquanto “Eu Quero Ser como Você” é grandiosa, sem conceder espaço à pieguice.
            “Das Kapital”, uma referência direta ao livro “O Capital”, de Karl Marx,  ainda traz outros destaques. “Melhor”, talvez a faixa mais acelerada e pesada do material, conta com um arranjo interessante de teclado e influências notáveis do punk rock.
            “Ressurreição” é possivelmente a melhor. Nessa faixa, a banda conseguiu aliar rock n’ roll básico e melodias mais cadenciadas e diversificadas, sem abrir mão de um refrão extremamente bem elaborado e convincente. Com um andamento mais simples, “Depois da Meia Noite”, o primeiro hit de “Das Kapital”, possui qualidades, apesar do formato evidentemente radiofônico.
            O tempo fez bem ao Capital. Dinho nunca esteve tão bem no palco e tão confortável com a sua voz (apesar do acidente) como nos últimos anos, e mesmo sem um dos integrantes originais hoje, o guitarrista Loro Jones, a banda não perdeu a sua identidade. “Das Kapital” é mais uma prova disso. É legal perceber que em meio a tantas novas bandas que apenas copiam um padrão estético e sonoro, um grupo de quarentões ainda manda bem, justamente por não estarem preocupados com modismos, apenas seguem seu caminho de forma natural e conquistam um espaço no mp3 dos adolescentes junto com bandas como Fresno e Restart.

Daniela Casale

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